COÁGULO – FILME

   Criação 2021/2022

Sinopse

Os primeiros desenhos da obra Coágulo foram criados após o golpe misógino de 2016, a partir da observação de que um gesto comum habita aqueles corpos masculinos parlamentares, supostamente representantes do povo: a opressão. Oprimir também significa bloquear o fluxo de existência, da vida em si, do que pulsa sim ou sim. E desde então a situação só piorou, o peso aumentou sobre os corpos e a liberdade, e com isso a ideia de que existe um coágulo impedindo o caminho de todos os seres habitantes da terra. Ele habita os corpos dos seres humanos, mas também os corpos das formigas, dos pássaros, das árvores e é gerado pelo sistema violento capitalista, racista, colonialista, exploratório e patriarcal.
Em Coágulo, a Marionete Livre de Juliana Notari coloca em evidência nossa extrema capacidade de transmutar esses tempos de maus tratos.  A confluência de batalha, poesia, música, respiro, escuta e a potência das águas, do vento, dos animais, e de nossas entranhas,  gera a força para acabar com o opressor.
O filme Coágulo faz parte do projeto de comemoração-manifesto dos 20 anos de Marionete Livre de Juliana Notari, contemplado pelo Rumos do Itaú Cultural. 

 

 

Sobre o processo

Após cinco anos de pesquisa, o grande momento de criação e realização do filme foi numa residência de 13 dias com toda a equipe, imersos na Mata Atlântica no município de Ubatuba, São Paulo.

Tudo está latente, como o coração que me habita e como o vôo do pássaro ou o nado do peixe. Comecei a residência dividindo a ideia principal de toda a minha caminhada: a de expansão e contração. Esse gesto essencial e inerente de todas as matérias que dividimos esse planeta teria que estar em evidência em cada detalhe desta nova criação, que também é um manifesto e uma festa.

Expandir e contrair faz com que a marionete ganhe suspiro e respiro, faz com que realizemos nossos desejos e sonhos, faz com que entendamos as opressões e nos livremos delas.

E a partir desse ir e vir das matérias, de ser pequeno e grande, de ser parte e todo, nos encontramos na Mata Atlântica para compartilhar, criar, escutar, desfrutar e confiar na interdependência que querem nos arrancar de qualquer maneira.

Sete artistas que puderam abrir uma brecha no tempo-espaço da produtividade capitalista para mergulhar no desconhecido.

Coágulo é um filme. Coágulo é o que não queremos mais dentro de nós. Coágulo é uma obra que coloca em evidência nossa extrema capacidade de transmutar.

Entre batalhas, poesias, música, respiros, escutas e a força das águas, do vento, dos animais, e de nossas entranhas, confluímos para criar.

Foram dias de diálogos inscasáveis entre todas as forças existentes na Mata Atlântica e as que nos habitam.

O filme conta com quatro momentos: Encantamento, Contração, Expansão e Fluxo.

Estamos realmente à beira do abismo? Fecho os olhos e me imagino com os pés pendentes na linha do abismo, recebendo o ar que passa e trespassa meu corpo e além dele, e que com todo esse vento, a barriga sente o mesmo vazio abismal. Ali, entre o céu e o nada que o fundo do buraco sugere, há ao menos, uma sensação de vôo, de conhecer o inalcançável, o poder de recuar e buscar outros caminhos, de olhar a nuvem como uma nave espacial, ou qualquer outro sentimento escondido dentro da gente. Não estamos no abismo. Estamos cheias, apertadas, sufocadas, aplastradas, amontoadas, oprimidas, achatadas, afobadas. Não há espaço, não há brechas para o vento passar, o sangue está coalhado, o pulmão colado na moeda, na ganância, o coração brilha como pepita de ouro contaminado com mercúrio, os pés atolados no próprio umbigo, os olhos caídos em sacos plásticos sem mar, sem horizonte.

Coágulo é uma obra que nasce da necessidade de liberar espaços corpóreos e de personificar uma batalha que é sistêmica mas que finalmente podemos identificar claramente, inclusive fazer um retrato falado e mofado pois faz parte do cotidiano, habita os detalhes e os monumentos.

 

Créditos

Ideia original e concepção: Juliana Notari

Direção: Laura Corcuera e Jairo Pereira

Roteiro: Juliana Notari, Jairo Pereira, Laura Corcuera, Maria Zuquim e Mirrah da Silva

Direção de fotografia: Mirrah da Silva

Trilha sonora original: Heri Brandino

Direção de arte: Maria Zuquim

Câmera: Mirrah da Silva

Montagem: Mirrah da Silva

Colorista: Marcelo Rodriguez | Mia Lab

Criação  de figurinos e objetos coágulos: Maria Zuquim

Marionete: Juliana Notari

Produção: Ana Luiza Bruno

Costureira base figurinos: Rita de Cassia Martins Freitas

Costureira Coágulos: Mônica Cristina da Rocha

Bordados e estampas: Maria Zuquim

Trilha Sonora:

Herí Brandino – Composição, direção musical e percussão.

Débora Neves – Soprano

Bárbara Blasques  – Soprano

Josué Barcus – Baixo

Lucas Rezende – Barítono

Gerson Brandino – Trompetes

Efraim Santana – Clarinete

Sarah Honsby – Flautas

Gravação e Mixagem: Gustavo Vellutini (Estúdio Macuco)

Mata Atlântica, Praia Vermelha, Ubatuba, São Paulo, Brasil, 2021