Mamífera híbrida (meu corpo dissidente)

Foto de Marina Takami

Coloco meu corpo na tentativa de diálogo com o momento presente. E não posso abandonar a pesquisa exaustiva sobre a matéria, que sim, passa pela forma. Neste caso aqui é A CAIXA.

O meu corpo de mamífera dissidente se relaciona intimamente com um objeto cheio de ângulos, lados…. e que não abandona a textura e o cheiro de árvore. Contradições de um sistema violento que vira as costas para qualquer tipo de natureza selvagem, mas se cavamos um pouco além da superfície descobrimos que o gesto selvagem é inerente. Ele permanece. A primeira matéria sempre vem à tona.

A caixa de papelão é árvore.

E depois de algumas horas, o meu corpo mamífero se fusionou com aquela caixa e se transformou em outre, amorfo, que a cada respiro a metamorfose se dava, sem limites, sem pausa. Ali, no Teatro Troisième Étage, na cidade de Strasbourg,  com a parceira criativa, potente e generosa, a artista Marina Takami, vivemos e experimentamos ser proteiformes. A caixa também foi desqualificada como quem prende, e pretende fechar ou moldar toda uma sociedade, ou quem protege um objeto fabricado em série, e por aí seguiria numa lista enorme que mata, oprime, tortura e ameaça. Mas até a caixa de papelão transita como uma beleia imigrante.

Eu posso engolir as caixas, você também. Eu posso engolir as caixas de plástico, ou aquelas de matérias sintéticas, que seguramente o seu primeiro gesto é a selva.

Somos imparáveis.Todas as matérias estão em constante movimento e transformação.