O tempo do amor é agora.

 

Foto Mariana Takami

O tempo do amor é agora. Esta frase dá voltas na minha cabeça desde novembro de 2018. O agora é a medida mais tangível das coisas, e tem a capacidade proteiforme e aglutinadora de eventos, que depois de um instante, micro que seja, já é passado, poético e subjetivo, é memória e história.

Então, assim,  o amor se relaciona com o tempo e o espaço, como uma dança que rompe vetores, estruturas, eixos. O amor brinca com o passado e com o futuro sem culpa, de peito aberto ao abismo, ao vento que toca  e leva o que já foi pesado. É real, verdade, acontecimento, mas é criação, é mutante, ficção.

Num passado próximo, no ano de 2015, O amor era nada, e foi transformado em obra. UMA, uma senhora  de 95 anos, transformada em marionete, contava com uma série de gestos sua vida amorosa, de amantes e amores, numa mesa cheia de curvas. Ela marionete, manipulava outras tantas marionetes e se comunicava com os olhos de carne dos espectadores. Viveu toda uma vida amando os detalhes das pessoas e os dela.

Anne-Marie, filosofa de 97 anos com quem compartilhei residencia de criação, detalhou o amor comparando com uma casa de janelas e portas supostamente fechadas, supostamente sem ar, sem respiro, sem aberturas, hermética ao mundo. Mas na segunda observação, detectamos as passagens, as fendas, as rachaduras… as incontroláveis brechas. O amor é impossibilitado de ser hermético, assim como uma casa.  Impossivel de ser fechado, assim como uma casa. Sempre habitável e viva.

O amor nada é : https://vimeo.com/173057238

No agora , mês de abril de 2019,  no escrever deste texto, retomo diversos momentos que já são cicatrizes e memórias que também pavimentam a minha existência que posso contar hoje, na forma como me coloco no mundo, o amor que sinto neste exato segundo, no presente continuo dos sentidos e do coração cheio, transbordante.

Vivemos tempos de revangilização e renormatização pelos Neo-pentecostais-liberais que vendem um futuro pasteurizado e controlado dos desejos, cheios de apegos, consumos, posses  do que se é normal e formal sem cheiro ou textura, sem temperatura que toca o estomago, que move as tripas e o coração. O amor  está no discurso do pastor verso ao indigena que nem sabe colocar o amor em palavras, que amor pode ser árvore ou folha, ou jaguar ou formiga. Não importa. Tudo é lucro, venda, preço. A vida  já não pulsa, mas na intimidade, no lugarzinho único do desejo, as vulvas seguem pulsando a mudar mundo e realidade, no tempo do agora, do amor. É isso. No agora, as vulvas deixam o lugar secreto e dançam por aí, sem medo. E pulsam. Correm, riem, abraçam, dão piruetas na cara do sistema.

Eu quero dizer a você, que posso  morar e migrar o mundo desde o estômago de uma baleia Jubarte ou posso ser muitas e tantas formas ou aformas quando me relaciono com um monte de palha. Ou simplesmente quando eu sinto o cheiro de flor cítrica  e macia quando te penso, te vejo, ou te intuo.

Querem arrancar nossos corações que são feitos de carne, sangue , mas também de células, terminações nervosas e de algo que nunca saberemos, que fabrica oceanos, ventos, fungos coloridos que habitam a quinta camada da terra , de larvas de vulcão em erupção. Podem arrancar. Podem fechar museus, teatros, cinemas, orquestras. Mas esses espaços tem capacidades de lagartixas, de recomposição dos membros amputados. Habitam nossos corpos e sim,  vomitaremos por aí as semente e posso vomitar uma árvore de 6.000 anos, a mesma idade do amor que sinto agora.

A cabeça está aberta e o bloco que é duro, quadrado e sintético não entrará. Os ângulos obtusos impossibilitam a passagem. Os edifícios disputam espaço com os Ficus. Os edificios são frios. As igrejas também.

E o agora? Nao tenho dúvidas.

Eu fomento o cinetismo, a ternura, os cuidados, a generosidade, o companheirismo, a escuta.